O capítulo 19 “Intimidação, ameaças e violência para proteger as vendas” do livro “Medicamentos Mortais e Crime Organizado:
Como a Indústria Farmacêutica Corrompeu a Assistência Médica” traz relatos muito fortes sobre a atuação da indústria farmacêutica no mercado mundial de medicamentos. O autor Peter C. Gotzsche revela as manobras usadas pelos grandes laboratórios farmacêuticos, como a Merck, a Pfizer e a Grünenthal, para que os verdadeiros dados sobre os efeitos colaterais de suas medicações fossem escondidos.
A ameaça física e psicológica constantes a médicos e pesquisadores faz com que a indústria farmacêutica continue comercializando seus fármacos sem empecilhos, uma vez que acabam por “‘neutralizar’ e ‘desacreditar’ “ médicos e cientistas que realizam estudos que comprovem os colaterais mais severos das drogas. Nesse sentido, o autor cita alguns exemplos de fármacos famosos, que ainda são amplamente comercializados, e que tiveram dados de estudos comprobatórios dos malefícios que causavam arquivados ou exterminados.
A talidomida e os inibidores da COX-2 são exemplos de drogas promovidas pela indústria, que apresentam efeitos adversos graves, os quais não foram amplamente divulgados por interesse da indústria. O autor explica que mesmo existindo estudos contundentes sobre os malefícios que as drogas poderiam causar, para que não houvesse prejuízo financeiro aos laboratórios, os pesquisadores e médicos em posse de tais provas, foram ameaçados com e-mails, ligações, cartas com fotos de familiares. Assim, mesmo que jornais e revistas científicas tentassem publicar os dados obtidos, a intimidação realizada pelos laboratórios freou quaisquer chances de divulgação.
Além disso, o capítulo mostra que existem novas drogas divulgadas pela indústria como mais eficientes e com menos efeitos adversos que as antigas para que continuem ganhando dinheiro em cima delas; contudo, tais fatos não são verdade, uma vez que sua função é igual, sem nenhum efeito verdadeiramente mais eficaz. Sobre isso, temos o exemplo dos inibidores das bombas de próton, que ao longo dos anos obtiveram inúmeros exemplares que alegavam efeito de maior eficácia sobre os antigos. O capítulo mostra que há estudos que comprovam a falácia de tal informação, já que, nesses estudos, as drogas apresentaram a mesma eficácia terapêutica. Concluindo-se, dessa forma, que o único motivo para a apresentação de “novas drogas” seja o retorno financeiro.
https://youtu.be/gtwo0xBFrVM
Ao encontro disso, temos também o exemplo dos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRSs), que quando lançados, foram sucesso de vendas no mercado farmacêutico. Contudo, estudos demonstram que os efeitos colaterais de tais fármacos podem causar aumento na taxa de suicídio. O professor e médico David Healy, um dos pioneiros na divulgação desse efeito adverso, foi demitido de seu trabalho e sofreu constantes ameaças após expor tais dados para a comunidade científica. A indústria, que vendia o medicamento como “Prozac”, teve que mudar o nome fantasia do fármaco, já que o nome antigo ficou associado à morte.
Dentro do capítulo, o autor ainda menciona a ação (ou a falta de) por parte de federações internacionais, como a FDA. O livro relata que a federação tem conhecimento sobre o lobby da indústria farmacêutica, mas que não realiza nenhum ato para parar tal fato. Inclusive, há menção de que a FDA poderia lucrar por sua permissividade no que tange aos laboratórios.
Por fim, o capítulo faz referência a comparação de protocolos experimentais industriais e acadêmicos, sendo que os primeiros tendem a esconder achados considerados prejudiciais para a divulgação de fármacos; e, através de intimidação e medidas retaliativas, impedem a publicação de artigos e pesquisas acadêmicos com achados negativos sobre a droga estudada.
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