DEMÊNCIAS
Quero trazer um alerta pra você que tem um idoso em casa e que passou a alterar seu comportamento de maneira gradual. Isto pode ser os primeiros sinais de Demência que atinge até 20% das pessoas com mais de 60 anos e 40% com mais de 80 anos.
O idoso pode tornar-se muito irritável, impertinente ou modificar sua personalidade, por exemplo, o vovô sempre foi correto, mas agora está muito excitado e desinibido sexualmente, não entende mais as piadas ou até perdeu a habilidade de fazer tarefas que antes dominava.
As vezes estes sinais são notados antes do nítido prejuízo da memória recente, destacando que as memórias antigas do pacientes são preservadas levando muitas pessoas a não suspeitarem da demência, dizendo “ele lembra muito bem de coisas antigas”.
OS PRINCIPAIS TIPOS DE DEMÊNCIAS
As duas formas de demências mais comuns são a de Alzheimer e a Vascular, juntas correspondem a 80% dos casos, muitas vezes associadas.
No Alzheimer ocorre uma degeneração cortical por depósitos amiloides entre os neurônios e a Vascular ocorre por múltiplos pequenos infartos cerebrais lacunares (pequenos AVCs).
Na primeira as perdas de memória e prejuízo comportamental são mais iniciais, posteriormente evoluindo com acometimento motor e sensorial até ficar acamado, enquanto que, na Vascular (antigamente diziam que o idoso estava “esclerosado”) os prejuízos de memória e motores são mais abruptos, pois associados aos AVCs.
O DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clinico, isto é, se dá pela entrevista com os familiares e a testagem da memória e habilidades do idoso, sendo de grande valia o Mini Exame do Estado Mental, feito em 5 minutos no consultório e todos os Médicos estão habilitados para realiza-lo.
Exames complementares são solicitados para afastar causas de demência curáveis (não são para fazer o diagnóstico). Minimamente são necessários 6 exames (Tomografia de Crânio, Hormônios tireoidianos, Sorologias para Sífilis e HIV, dosagem da vitamina B12 e hemograma).
Diagnóstico de certeza, pode ser firmado somente após o óbito, quando pode se estudar o tecido cerebral que não permite biópsia ainda em vida.
Entre as causas reversíveis de demência, podemos citar: (1) hipotireoidismo, (2) deficiência de vitamina B12, (3) neurosífilis, (4) relacionada ao HIV, (5) tumores cerebrais, (6) hidrocefalia de pressão normal, (7) alcoolismo e (8) Benzodiazepínicos (Rivotril, p. ex.).
TRATAMENTO
O principal tratamento é envolver os familiares nos cuidados, pois a demência é degenerativa, progressiva e inexoravelmente levará a completa incapacidade e dependência dos cuidados das outras pessoas.
CUIDANDO DOS PREJUÍZOS DE MEMÓRIA
Os medicamentos para desacelerar o processo são os anticolinérgicos (donepezil, rivastigmina, galantamina e tracrina), mas que na prática se nota muito pouco benefício e mais efeitos colaterais, ou seja, mesmo com as medicações, a demência irá progredir.
CUIDANDO DAS ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS
Mais notório para a família são os medicamentos sintomáticos, usados para controlar as alterações comportamentais, entre eles, o mais usados são os neurolépticos (haloperidol e risperidona) que atenuam a agressividade, controlam melhor o sono e os sintomas psicóticos (delírios de perseguição ou alucinações).
Por isso muitos pacientes com demência são tratados na Psiquiatria e não na Neurologia, pois a maior habilidade do psiquiatra em lidar com os transtornos de comportamento, parece aos familiares que o enfermo “melhorou”.
OUTROS MEDICAMENTOS
Existe o uso de antioxidantes como a Vitamina E e Seleginina com indícios de aumentar a sobrevida e diminuir a hospitalização. A Memantina associada aos anticolinérgicos, somente dever ser acrescentada nas fases moderada e severa da doença, pois é tóxica aos neurônios.
Os sintomas depressivos podem ser tratados com Antidepressivos Serotoninérgicos como o Citalopram e Sertralina.
Alguns colegas tem usado o Metilfenidato (Anfetamina) para a melhora cognitiva dos pacientes ainda funcionais.
Na demência vascular o tratamento é a compensação cardiovascular, mas se justifica usar os anticolinérgicos e memantina porque mesmo a causa sendo vascular, ela está muito associada com a doença de Alzheimer, ou seja, ter demência vascular, não exclui a Doença de Alzheimer.
As demências reversíveis são tratadas com as reposições de vitamina B12, tratamento das enfermidades causadoras, as vezes com neurocirurgia nos casos de tumores e hidrocefalias, além de afastamento do álcool e dos benzodiazepínicos no caso de substâncias.
CUIDADOS GERAIS
Os familiares sofrem muito ao perceber que uma pessoa que foi importante para todos os descendentes, está perdendo suas capacidades, por isso, pode ser necessário uma consultoria com psicóloga e terapeuta ocupacional para “aprender” a lidar com as novas rotinas.
Para algum alívio para os familiares, o idoso demenciado não tem ciência decadência, ele é incapaz de perceber que está mentalmente prejudicado, mas nas fases, inicial e moderada, eles conseguem entender o contexto, por isso, trate-os com muito carinho, isto eles podem aproveitar.
Não podemos esquecer de manter os cuidados gerais, tratar das demais enfermidades que tenha da forma menos invasiva possível para evitar maiores riscos.
A expectativa de vida via de 2 a 20 ano, a grande maioria evolui para óbito em até 10 anos depois do diagnóstico.
ASPECTOS JURÍDICOS E LEGAIS
Como perdem a capacidade de cuidar de suas coisas, deve-se providenciar a interdição civil, pois facilmente se tornam pródigos e dissipam seus bens ou não terão capacidade de solicitar seus direitos previdenciários.
DISPOSIÇÕES DE ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO VITAL
Muito importante a família entender o processo demencial como algo progressivo e que NÃO conseguiremos melhorar a condição cognitiva e motora do enfermo.
Pacientes demenciados, moderado a severos, já muito dependentes (acamados, sem capacidade de se alimentar sozinho, não contactuantes, etc) quando acometidos por enfermidades potencialmente fatais (AVC, infarto, sepse, etc.) que ensejariam indicação de UTI, não devemos investir em tratamento curativo, mas paliativo.
Distanásia é diferente da Eutanásia, na primeira o médico atrapalha o óbito inevitável do moribundo com intervenções em paciente terminal (as vezes por incapacidade da família aceitar o desfecho fatal e outras para render mais honorários e faturamento) e na segunda o médico abrevia ou promove o óbito com o consentimento do paciente (sem o consentimento seria homicídio).
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