A Influência Corruptora do Dinheiro Fácil

O capítulo 07 do livro “Medicamentos Mortais e o Crime Organizado” traz uma importante reflexão sobre a fácil influência corruptora do dinheiro.

No seu primeiro parágrafo o autor Peter Gotzsche traz a frase que vai guiar toda a discussão seguinte: “a indústria compra amigos”. Mas aqui a pergunta que fica é, quem são esses amigos, e qual a vantagem de compra-los?

Basicamente, nessa parte o autor aborda o adoecimento da índole e do caráter de médicos que vendem suas verdades inicialmente por uma caneta gravada a laser, depois um envelope com um “agradecimento” por palestrar em uma reunião de empresas e futuramente por contratos milionários e recorrentes. Maneiras diferentes de se ler propina.

Mas qual a real intenção em comprar esses profissionais da saúde?

O livro traz como exemplo um relato de um certo oncologista. Tal médico, ao usar argumentos exagerados e pouco sólidos, conseguiu impedir a introdução, no hospital, de um medicamento genérico muito mais barato que contém a mesma substância ativa que o medicamento original para câncer. Após um tempo foi descoberto que esse tal médico, rotineiramente recebia tapetes persas de presente de uma certa indústria farmacêutica.

Podemos nos questionar qual seria o interesse dele nisso, mas é simples. Ao ser ‘leal’ à empresa que introduziu o medicamento no mercado em primeiro lugar, e ainda cobrando muito além por ele, os benefícios que recebe da empresa continuarão.

Estes benefícios são tão atrativos que se tornam quase irrecusáveis. A Sandoz, um grupo farmacêutico, por exemplo, ofereceu um cargo de consultoria de 30 mil dólares por ano a um pesquisador primário para convencê-lo a aceitar uma conclusão favorável de um ensaio, embora o medicamento da empresa, isradipina, um bloqueador de canais de cálcio para hipertensão, tivesse uma taxa mais elevada de complicações do que o medicamento ao qual foi comparado.

E as coisas ficam ainda mais complicadas quando entendemos o quão comum é esse tipo de relação. De acordo com o livro, na Dinamarca, considerada um dos países menos corruptos do mundo, aproximadamente 12% de todos os médicos do país tinham algum vínculo com a indústria farmacêuticas e recebiam “honorários” regularmente.

Nessa lógica cruel podemos observar que quase todos os envolvidos saem ganhando: o médico, a empresa, a indústria…

Contudo, o único perdedor nessa história é ele: o paciente.