Os Ensaios Clínicos Duvidosos Feitos pelos Fabricantes
O capítulo 05 do livro “medicamentos mortais e o crime organizado” traz alertas sobre como os ensaios clínicos duvidosos para a verificação de eficácia de medicações podem ser modificados, uma vez que os patrocinadores dos estudos muitas vezes são os próprios fabricantes das medicações a serem testadas, o que enviesa o estudo, já que o lucro é o principal objetivo desses fabricantes.
Para demonstrar a busca por lucro a qualquer custo, o livro traz como um dos exemplos, o famoso caso da Talidomida, o qual era produzido por uma empresa alemã e era fortemente recomendando para grávidas. Mesmo após os relatos de bebês nascendo com falta dos membros, uma condição chamada focomelia, a empresa continuou produzindo e indicando o medicamento para gestantes. Ela só foi tirada do mercado anos depois de sua produção.
Depois desse episódio, foi estabelecido que novos medicamentos deveriam passar por ensaios randomizados antes de serem aprovados. Entretanto, A FDA (Food and Drug Administration) criou uma forma de não se comprometer com esses ensaios, e passou a marcar os produtos como “possivelmente eficaz”, um termo amplo pode incluir diversas interpretações. Além disso, esses ensaios randomizados precisariam de um efeito estatisticamente significativo em dois ensaios controlados por placebo, o que também é duvidoso.
Outro caso interessante que o capítulo traz é sobre os ISRSs. Em 2003, a FDA estava revisando estudos sobre os ISRSs em crianças e adolescentes para saber se os medicamentos aumentavam o risco de suicídio nesse grupo e definiu que esse risco existe.
Os pesquisadores que tinham publicado bons resultados sobre essa medicação e contestado a parte do risco de autoextermínio, tentaram ter acesso aos dados das empresas farmacêuticas em relação a essa situação para uma melhor análise, porém os mesmos pesquisadores assinaram um acordo que definia os dados como confidenciais apenas aos fabricantes.
Assim, as únicas pessoas que tinham acesso a dados tão importantes eram as da própria indústria farmacêutica produtora dos ISRSs. Caso acontecesse o pior, a solução seria enterrar o ensaio, afirmar que houve um erro no processo de randomização e encerrar a discussão.
O marketing em cima dos medicamentos também é destacado no capítulo. No final do século XX, as empresas privadas eram as principais responsáveis por realizar ensaios clínicos, ao mesmo tempo que também eram empresas relacionadas a marketing e a publicidade.
Os ensaios clínicos e o marketing se misturaram tanto que o pessoal do marketing substituiu os chefes de pesquisas e assumiram o processo de pesquisa clínica e pesquisa básica.
Os próprios médicos aceitaram essa condição e passaram a fornecer seus pacientes para ensaios clínicos em troca de publicações, benefícios e dinheiro. Assim, a comercialização da medicação está muito mais ligada ao bom marketing sobre ela do que em sua real eficácia.
Assim, com base nessas e em outras informações trazidas no capítulo 05, percebe-se como o contrato social com pacientes que participam de ensaios clínicos foram rompidos.
Os ensaios atuais, em sua maioria, visam apenas ao lucro, sem valor científico. O resultado dos estudos pode ser positivo quando forem financiados pela própria empresa fabricante do mercado e, caso o resultado do ensaio seja negativo, ele pode ser distorcido ou enterrados para sempre, de forma a nunca prejudicar a venda de empresas farmacêuticas.
Sendo assim, marketing, lucro e ciência se misturaram a ponto de que as principais consequências -negativas- caem sobre quem mais precisa de ajuda: o paciente.
No Comments Yet