O COLAPSO INEVITÁVEL DO SISTEMA PRIVADO DE SAÚDE NO BRASIL

A Falência dos Sistemas de Saúde Público e Privado

Vou explicar tecnicamente o que está ocorrendo e porque o Sistema de Saúde vai colapsar em breve.

Tudo passa por uma maracutaia que foi, primeiramente empurrada pelas diretorias de RH das empresas que contratavam os planos para seus funcionários: trata-se do alargamento do conceito de saúde.

Os planos de saúde são, no grosso de seus contratos, sustentados pela folha de pagamento das empresas.

Com o aperto da regulação restringindo a venda de planos individuais, restou às empresas que administram esses planos vendê-los exclusivamente na modalidade coletiva, para empresas.

As empresas, via RH, pagam (sustentam) esses planos e uma pequena parcela é meramente descontada do funcionário em um regime de “co-participação”. Um plano top incluindo os maiores hospitais do Brasil pode chegar a um custo de 15k mensal. Sim: a empresa paga 15.000 por mês e o funcionário tem descontado algo em torno de 5% desse valor. Vem na sua folha, para um plano “top”, um desconto próximo de 700 reais.

Um plano mais moderado que não inclua os hospitais premiados (tipo HIAE ou SL), tem os custos entre 6k e 12k e o funcionário “paga” em torno de 300.

Os planos mais modestos com hospitais privados médios custam em torno de 5K (os mais modestos custam 2k) com descontos que vão de 50 pilas a 100 pilas no “hollerith” do funcionário.

Com vistas a atrair mão de obra quando a empresa não consegue concorrer com salários mais altos, bônus mais agressivo ou remuneração variável mais constante, as espertinhas de RH cobrem esse “buraco” financeiro com os “fringe benefits”: vão no plano, que já é top, e ao invés de melhorar o salário, incluem no plano colocação de DIU, tratamentos estéticos com silicone e botox, toda a sorte de tratamentos “estéticos”, terapias, “spa” como um “benefício” que o concorrente não tem.

Esse “passa-moleque” começou lá pelos anos 2010 e isso foi só ampliando.

Logo, para manter o contrato com grandes empresas, as espertinhas do RH das grandes empresas mantinham uma política salarial mais tímida, mas em troca passavam a conta para o plano, que passava a incluir estética no conceito de saúde para atrair mão de obra com salário “meia boca”, mas com “benefícios” que os planos da concorrência não tinham.

Parte 2

Pois bem: veio a reforma trabalhista e com a pejotização, uma parcela grande de gente que não era CLT, já foi excluída desse benefício. Quem se lascou? Em primeiro lugar, o funcionário pejotizado, em segundo, o plano que começou a perder contratos.

A receita dos planos caía e as despesas só aumentavam, pois o conceito de saúde começou a englobar tratamentos hormonais e tudo aquilo que a Ju já demonstrou acima.

Estamos falando ai de meados dos anos 2015 pra frente.

Custos aumentando, receitas diminuindo, “saúde” sendo reconceituada para temas de estética e outros relacionados a “gênero” (qual seja, ou vc tem uma doença ou, se não é doença, não é questão de saúde…).

A disfuncionalidade atingiu primeiro os idosos, que passaram a ter planos separados, como foi o caso do Prevent Senior, duramente atacado durante a pandemia por questões “ideológicas”.

O conceito de saúde não foi apenas ressemantizado, mas foi também politizado e o que é saúde no sentido clássico, foi para o segundo plano.

Desta forma, todas as empresas de Plano de Saúde foram forçadas a não apenas sustentar uma agenda e estimular feminismo e gayzismo, mas passaram a dificultar a vida de quem tem câncer, infecção, refluxo, catarata, fraturas, osteoporose, etc, etc, etc para que tratamentos hormonais, terapias, cuidados com obesos mórbidos, tratamentos estéticos (incluindo emagrecimento, lipo, implantes estéticos, harmonizações faciais, aplicação de botox, etc, etc, etc) entrassem no lugar.

Lembro-me que a primeira discussão foi nos anos 90, quando se travou judicialmente a batalha para cirurgias de correção de miopia, até então consideradas “estéticas”. Quando a justiça mandou incluir operação de correção de miopia nos Planos de Saúde, a porteira abriu.

Parte 3

Expliquei o que aconteceu no lado da empresa (que é quem paga a conta) e do lado do Plano de Saúde (que é quem presta o serviço e remunera o médico).

Tem o lado do beneficiário, o mais grave de todos.

Além de se refestelar com coisas inúteis, estéticas e usar quase nada o plano para cuidar da própria saúde, o brasileiro médio guarda a sensação de que o benefício “é de graça”.

Na cabeça dele, toda vez que ele (ou ela) usam o Plano, quem está pagando a conta é outra pessoa. Pra ele é “de graça”. Ele não paga nada ou, se paga, é “uma merreca” perto do quanto custa de verdade o tratamento.

Um tratamento estético de 30k sai, portanto, por menos de 500 reais pois “o Plano cobre tudo”.

Bem, o Plano “cobre” pq, na outra ponta, a empregador do beneficiário gasta perto de 15k por mês com ele no quesito “plano de saúde”.

Mas ela não paga isso “do nada” – isso é retirado de uma conta de receita antes dos juros e impostos. É dinheiro que, em tese, poderia ser distribuído para o funcionário a título de bônus ou partilha de resultados.

Por ano com um funcionário de nível de gerência ou direação, que tem direito a um plano “top”, na verdade o que acontece é que ele deixa de receber um bônus de 150k-180k por ano pois esse valor é usado para cobrir o plano dele.

A completa deterioração da remuneração variável anual está diretamente ligada ao colapso dos planos: foram ficando mais caros, e com o aumento do desemprego e a pejotização, onde havia antes 5000 funcionários aptos a fazer o RH da empresa pagar por 5000 planos, houve a queda para apenas 1000 CLTs: o resto virou desemprego e PJ.

Se a empresa pejotizou 2/3 da sua folha, o plano perdeu portanto 2/3 dos contratos ativos e teve que manter, no outro terço, as despesas com “silicone” das dondocas.

Óbvio que, mesmo com a queda natural de despesas com beneficiários que foram excluídos dos Planos, as empresas que administram Planos não admitiram e perda de receita e repassaram a conta para o terço que ficou registrado na folha das empresas. Passaram a cobrar o mesmo que cobravam por 5000 vidas para cobrir apenas 1000.

Na outra mão, os benefícios foram aumentando e os beneficiários foram “perdendo a mão” e incluindo pilates, terapia, reiki com despesas que antes eram semestrais, passando a ser semanais e, em muitos casos, até diárias.

Logo, temos ai dois fronts:

(i) o uso dos Planos de Saúde como meio de remuneração indireta, por intermédio de uma completa alteração do conceito de “saúde”; e

(ii) a diminuição de “pagantes” e o aumento do “consumo” de tratamentos por parte dos que ficaram.

Parte 3

Resumindo:

(i) o número de beneficiários diminuiu,

(ii) esses beneficiários passaram a usar plano até para tratar unha encravada e manicure (real, não é força de expressão),

(iii) as empresas diminuiram os beneficiários mas não passaram a pagar menos pelos contratos com os Planos,

(iv) os Planos se submeteram as mudanças no conceito de saúde, mas como bons capitalistas que são, repassaram o custo,

(v) as empresas se submeteram a esse aumento de custos, mas repassaram o custo matando as práticas de “remuneração variável”, que é justamente o fator remuneratório que permite que alguém compre um carro, uma casa,

(vi) a geração botocada se afogou em dívidas, não tem carro nem lugar pra morar, mas mensalmente tem uma tetinha nova, um nariz empinadinho, uma barriga murcha.

Para 2024

Bem, essa roda viciosa quebrou.

Os Planos não suportam mais cobrir tratamentos estéticos nesse ritmo.

As empresas não conseguem mais incluir novos funcionários nos antigos planos e vai todo mundo pra PJ. O custo fica todo nos Planos e ninguém recebe “um puto” de participação nos lucros, pq não sobra nada nesse front para o funcionário, que consome tudo em reiki.

O funcionário tem a falsa impressão de que “é de graça” e não vê que o carro que ele deixou de comprar, o apto que ele não conseguiu financiar é exatamente o que pagou a tetinha da sua colega de trabalho ao seu lado.

Quando acordarem para o problema, vão notar que a farra da teta e do botox acabou, mas onde vão sentir mesmo é no dia que precisarem ser internados para curar-se de uma doença grave ou remendar o corpo por causa de um acidente.

Ai sim todos vão entender o tamanho da cagada que nos metemos desde 2010 e que agora, em 2024, chega a conta para todo mundo pagar.

Conclusão

Todo o sistema de seguridade coletiva em que a média dos não usuários paga a conta dos usuários abusadores tende ao colapso e ao fracasso.

É assim com o sistema de previdência pública, é assim com o sistema de Planos de Saúde privados, é assim com planos de seguro de vida, é assim com Previdência Privada, é assim com tudo onde há um grupo que paga a conta e outro que usufrui.

Esse modelo assistencialista de cunho socialista NUNCA VAI FUNCIONAR.

Evandro Pontes